segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Nomes de Ciganos, espíritos, “suas estórias” e os antepassados


Este texto tem o objetivo de esclarecer o que aos neófitos, parece muito confuso e, muitos por varias ocasiões acabam comprando as estórias sobre determinado espírito cigano como realidade. Acreditando quem sabe, que todos os Ciganos de mesmo nome, são iguais, tratando-se do mesmo espírito e, portanto sabedor de sua estória contada, cores, frutas que se determina etc.
Porém isso é no mínimo incoerente e ilógico, porque sabemos que os Espíritos Ciganos se agrupam sob determinado nome coletivo que represente sua “identidade espiritual” – a que ele se apresenta a incorporar nas tendas, terreiros e centros espiritualistas espalhados pelo Brasil – Por isso, entender que Cigana Carmem foi uma cigana  de 45 anos, que viveu na Espanha e teve uma filha, não vale pra todas as Ciganas Carmem. E assim vale para todo Cigano ou Cigana que se manifeste. Assim eles podem usar um nome genérico para uso exotérico, digamos assim, porém terá e tem obviamente outro nome, este relativo ai sim, a sua individualidade como espírito, como consciência criadora. Este nome não é revelado a qualquer um, ou usualmente. Este é reservado a preceitos essencialmente internos, de caráter profundo entre médium, espírito e o responsável por estar à frente dos rituais e desenvolvimento do médium, ou em contato restrito e íntimo de elevado nível mediúnico entre espírito e seu “guiado” (médium). Este nome virá carregado de significado familiar deste Cigano quando em vida e seus fundamentos energéticos que criará uma corrente magnético-fluídica com tais recursos, unindo o médium, o espírito e a energia canalizada do tronco familiar, estabelecendo um “alicerce” que ficará ativo e irradiando vibrações específicas que será a ponte de ligação mais profunda entre adepto do culto aos espíritos Ciganos, ao espírito Cigano e seus antepassados. Onde muito provavelmente o adepto seja igualmente um antepassado de mesma família ancestral. Porque ao estarmos cultuando um espírito sob uma identidade passada, nunca estaremos alheios a esta identidade passada, mas sim, fazendo parte dela, como um descendente encarnado de tudo o que ela trás e representou para a história da humanidade.
         Da mesma forma, quando estamos cultuando um espírito que se apresente ligados a nós dentro de uma identidade indígena, temos inevitavelmente uma ligação com essa mesma identidade, sendo de família comum ou afim, a nossa em tempos pretéritos. Além disso, quando louvamos os Negros Africanos, os Índios brasileiro, estaremos inegavelmente, cultuando os antepassados de nossa terra, de nosso sangue e tronco étnico comum entre nós; brasileiros. Com certeza, um de nossos antepassados, o tataravô de nosso bisavô, por exemplo, pode ter sido um índio ou negro, ou ambas as raças como os Caboclos que em seu significado quer dizer “mestiços” – Somos herdeiros dessas raças; de negros de vários troncos familiares distintos, de índios de outros vários troncos familiares distintos, de holandeses, portugueses, franceses, que se misturaram aos negros e índios, formando um legado mestiço que formou o que somos hoje. Somos por assim dizer, todos “Caboclos” e que louvamos nossa ancestralidade, repassada de geração a geração atrás do sangue, do DNA que não apaga jamais nossas origens, mesmo que elas sejam seculares e que na cor da pele, na voz, na fala, na cor dos olhos não sejam nítido os vestígios, mas nosso sangue não esconde ou nega nunca. Além disso, pensar na possibilidade de que não reencarnamos nesse território nesta vida pela primeira vez, podemos vislumbrar então que podemos ter tido alguma vida como um índio, ou filho brasileiro de escravo africano de Moçambique, Angola, Congo, Nigéria, Gana. Há na verdade, inúmeras possibilidades que nos conduz ao passado como parte dissociável de nós, de nossa família, de nossa gente, de nossos iguais.
Ao cantarmos, dançarmos, reverenciarmos e louvarmos a tais espíritos de identidades como estas, estamos também dançando, cantando e dando honras a nós mesmos, ao que nosso útero trouxe e irá trazer para a vida encarnada; ao antepassado e ao descendente. E esses “elos” transmitidos não se apagam com a morte física, pois, este corpo que habita meu espírito, é uma herança de minha raiz familiar ancestral específica de meu tronco familiar, logo tenho em meu corpo traços negros, índios, europeus. De onde eles vieram? De meus antepassados familiares, do tronco de meu pai e mãe.

 E quanta sabedoria tem em cada um desses troncos, quantas consciências construíram cada um, quantos valores, quantos registros há gravados dentro de cada “aglomerado ancestral” de nossos antepassados. E nos ligarmos a isso, além de ser uma forma de louvar nossos antecessores e tudo o que construíram para nós e que é parte da história humana coletiva também.

Baseados nisso tudo, ressaltamos que os nomes apresentados comumente entre uma manifestação e outra para o atendimento aos buscadores de amparo e orientação espirituais dos diversos núcleos de intercâmbio mediúnico, é que afirmamos tratar-se de nomes representativos apenas e não o nome que cada um deles tiveram conforme a encarnação que viveu dentro do contexto racial e social a qual está registrado em seu corpo espiritual na forma de Cigano, Índio, Sertanejo, Africano.
Entretanto, muitos espíritos podem se manifestar sem que nunca seu médium tenha exato conhecimento do que este é dentro desse tronco familiar e o que foi para o médium. Muitos cultos não se aprofundam nessa questão e pela natureza do mesmo, o intento da ligação entre médium e entidade se faz para o atendimento assistencialista aos freqüentadores, o público em geral. Logo o bojo central e visceral é estabelecer uma comunicação mediúnica para o benefício de terceiros; neste caso, o público que vai aos atendimentos oferecidos por cada casa. Porém para que se chegue neste nível de entrosamento digamos assim, para que a entidade possa se manifestar com segurança através de um canal comunicativo (seu médium), é preciso estabelecer e fixar um canal que servirá de elo, de intercessor, que irá viabilizar, não a comunicação, mas a devida e equilibrada sintonia satisfatória e íntimo entre energia do médium e energia da entidade e o que a ligação entre ambos, estabelece vibracionalmente. Ai sim, neste tocante, dependendo do culto, da casa e da forma que conduz seus rituais internos em ressonância com sua filosofia e conhecimentos, este elo será feito de forma superficial e genericamente ou de forma aprofundada e específica, indo buscar a família, os fundamentos de cada um e estabelecer isso dentro do ritual. Obviamente, portanto, indo no individual de cada espírito, trazendo sua identidade e seus elementos naturais que correspondem a esta, criando uma harmonia e sincronia com seu médium, seu guiado. Percebam que desta forma, o foco central de nosso culto é outro e não o atendimento ao público. Este se faz por conseqüência do todo, e não, por finalidade.

        

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