sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Exageros, fantasias, animismo ou espiritualidade?

No Estado do Rio de Janeiro é bastante comum a existência do que se chama de Tendas Ciganas. Locais de trabalhos espirituais que atuam unicamente com os Espíritos Ciganos, desvinculado qualquer religião, e, como eu vejo, como um culto destinado aos Espíritos Ciganos.

Primeiramente gostaria de deixar claro que uma vez desvinculado de qualquer tipo de agrupamento religioso, cada Tenda, ou Casa espiritual é independente e tem autonomia de estruturar regras, filosofias, liturgia, cerimônias, e tudo mais, conforme recebeu orientação pra tal, seja de seus Guias Ciganos ou pelo conhecimento de outro médium/chefe de alguma outra Tenda.

Sendo dessa forma, cada Tenda é uma estrutura única, que responde unicamente ao bom senso e a seus mentores Ciganos. E não precisa obedecer a posturas, posições, liturgia ou crenças ou fundamentos de outros agrupamentos/grupos religiosos. E neste bojo, ainda referindo-se ao assunto anterior; Ciganos na Umbanda, nem a Umbanda e Umbandistas deveriam se lançar em criticar algo que não é de sua competência, nem as Tendas deveriam criticar e lançar olhos analíticos do trabalho que muitas Casas fazem ao trabalhar com estes espíritos. Se ali está indo, é sinal, pois que aceitaram atuar dentro daquela seara e ali trabalham decentemente. Então como diz o saber popular: cada macaco no seu galho.

Partindo agora para uma análise do que entendemos como Espíritos Ciganos.

Querendo ou não, os Ciganos acabaram se agrupando em grandes falanges que atuam sob nomes genéricos; Vladimir, Conchita, Esmeralda, Pablo, Zoraia, etc. Significa que o Pablo que atua através de mim, pode não ser o mesmo que atua em outro médium. Porém este espírito tem a sua história, sua bagagem, sua vida. E tem peculiaridades que outros não terão, justamente por ser uma consciência espiritual única, assim como os Renatos, Marcelas, Marias que existem no mundo.    

Mas todo Cigano foi de fato um Cigano em vida?

. Nem todos. Explico.

O fato de agrupar-se em falanges e grupos de espíritos afins, estes nem sempre foram Ciganos no sangue e no tronco familiar, mas podem ser sido pessoas ligadas ao povo Cigano de alguma forma, ou foram pessoas que estiveram ligados em cultos e ciência natural compatível as vibrações e trabalhos que operam os Ciganos, tendo grandes afinidades vibracionais com os Ciganos. Como o povo Celta, por exemplo, pessoas de cultos pagãos ligados a natureza, alquimistas, andarilhos, etc. E no fim das contas, se apresentam sob um nome genérico de uma falange de Ciganos, pois tem afinidades e atuam dentro das magias e formato de rituais e trabalhos vibracionais similares.
                      Devemos lembrar que quando se agrupam espíritos afins, outros passam a se aproximar e ingressar, se aproximando e se houver concórdia de idéias e filosofias morais, acabam por se unirem e atuam juntos. Se os próprios Ciganos encarnados em suas épocas de grandes clãs e grupos familiares aceitavam estrangeiros após este passar por várias etapas de liturgias para aderir-se em sua e espírita, a “alma Cigana’. Então dentro dessa linha de raciocínio, não seria nada destoante, achar que nem todos os Ciganos que se apresentam como Ciganos foram de fato, de sangue e tronco familiar. Não duvido nem um segundo.   
                      Mas refletamos o seguinte: uma vez que um espírito adentra dentro de uma “linha”/ falange, ele deverá se adequar a ela, e voltamos ao mesmo caso do outro texto. Não é religião alguma que precisa se habitar a nós, mas sim, nós ao coletivo predominante. E sabemos que Ciganos não tem pátria. Não são alemães, holandeses, espanhóis, árabes, egípcio, indianos. Ciganos é um nome dado pelos Não Ciganos, para referir-se inclusive de forma pejorativa ao povo ROM, que possuem várias e várias linhagens e troncos familiares distintos. Isso implica em uma diversidade grande de costumes diferentes, fundamentos diferentes, crenças diferentes, conforme a raiz e tronco familiar que cada Cigano tenham vindo. Além disso, não esqueçamos que quando duas culturas interagem por um determinado tempo, um acaba absorvendo algo do outro. Por isso percebemos tantos costumes de um povo, sendo praticado de forma quase igual por outro do outro lado do mundo. São frutos de conhecimentos seculares da raça humana, e da interação entre culturas em algum espaço de tempo, de alguma forma.
                      Porem essa “diversidade” também abre espaços para a exposição de alter ego e fantasias íntimas de cada um. De personagens que queremos ser, que nos fascinam de alguma forma. Ai mora o perigo, e que perigo. Nós distanciamos da real finalidade da conexão com os Espíritos, e usamos tais arquétipos e vultos, para exteriorizar nossas carências, vaidades, deficiência e baixo estima. Enfim querendo curar a doença da alma, da nossa alma e por alguns instantes e minutos, serem outras pessoas. Bem sabemos que isso é um processo natural de cura de desequilíbrios psíquicos e emocionais. Mas isso quando ocorre, deve ocorrer no inicio de um desenvolvimento. Quando é o momento de trabalhar o médium, e buscar seu equilíbrio. E aos poucos um bom dirigente espiritual irá conduzindo essas manifestações, podando e esclarecendo, passando valores e a importância de um trabalho mediúnico límpido, honesto e transparente. Que na realidade dos fatos, é na simplicidade que entramos em sintonia com nossos Ciganos, com a natureza e seus elementos e não com roupas caras, festas regadas a cascatas de vinhos, brilhantes purpurinas, shows de exibicionismos, danças folclóricas, espanholas, etc. As pessoas acabam por associar origem pátria com os Ciganos. Daí surgem os Ciganos Espanhóis com seus leques, e castanholas, Turcos, Árabes de turbantes enormes da cabeça, de egípcios com roupas negras como os beduínos do deserto. Complicado não?  Será que precisam disso?
                      Os Ciganos como povo andarilho passou por várias culturas e absorveu um pouco de cada uma delas. Porém sua grande característica foi justamente preservar suas tradições. Por isso ficavam reclusos em seus acampamentos, as mulheres iam procurar os Gadjos (não Ciganos) para a adivinhação. Além obvio da perseguição e desprezo que as pessoas ditam por eles. Por pura falta de informação.
                      Não negamos a existência de animismos, fascinações e ambições, mescladas as vaidades. De pessoas que fazem dos trabalhos Ciganos e seus desdobramentos, como um ganho de vida, auto proclamam-se Barôs de Tendas (como se ciganos de sangue fossem)  E assim ganho a vida, fãs, seguidores, polpas e tudo mais. 
                      Não censuro roupas e apetrechos, mas canja de galinha e bom senso, nunca fez mal a ninguém. No lugar de haver trabalhos sérios e de amparo as pessoas, vemos shows de fantasias com trajes luxuosos, maquiagens pesadas, shows intermináveis de dança para entreterem os visitantes.
                      Mas quando vamos “encantar” um Cigano em alguém, levamos em conta seu tronco de origem para que possamos estabelecer o mais próximo possível de seus fundamentos, peculiares a ele e suas magias de outrora.

Tenda Estrela de Lótus – Os textos desse site estão protegidos pelos direitos autorais

Nenhum comentário:

Postar um comentário