sexta-feira, 16 de março de 2012

A diversidade de um Povo




Entender o povo Cigano contemporaneamente e não com conjunturas de uma origem remota na Índia e dos grupos que lhe deram origem, é entender que faz-se necessário trilhar pelo caminho do entendimento da DIVERSIDADE. Diversidade  na: religião, costumes, crenças, rituais espirituais, filosofias, cor de pele, idiomas e dialetos falados para se comunicar, entre muitas outras coisas.
Porém, pseudos-sábios defendem fervorosamente que Rom - Cigano que é Cigano só tem que falar o Romani, ser deste ou daquele entendimento espiritual, ter esta ou aquela crença, ser desses ou daqueles traços físicos. E não é por aí.

Sabemos que o Cigano é povo nômade, mas não por escolha e sim porque eram segregados e expulsos por onde passavam. E esse estilo de vida, é o fator decisivo para a multiplicidade de traços e "corpo" do povo, até porque eles precisavam se adaptar ao local onde ocupavam. Por tempo obvio, indeterminado, mas eram obrigados a se adaptarem para poder sobreviverem. E isso conferia a assimilação da língua local, certos costumes e hábitos do cotidiano, e muito comum a miscigenação entre os povos locais de onde ocupavam. Achar que a essa altura do campeonato, os Ciganos são "puros" racialmente falando em detrimento a sua origem em terras indianas, é ingenuidade. Por isso vemos ciganos brancos,morenos, ruivos, de pele clara ou escura, e das mais variada tonalidades e traços corporais diversificado. E essa mistura de raças, não é de hoje, mas nasceu junto com a interação dos povos através dos tempos.

Mas o Cigano não é um povo que conserva suas tradições e etnia? Sim. Indiscutivelmente. Inclusive cito que os Ciganos da maioria dos grupos existentes, são obrigados a falar o romani ao estarem entre si e em seus núcleos familiares. Isso ajuda a conservar sua língua e seu dialeto vivo, sendo passado as gerações futuras. Mas assimilar e adaptar-se a outras formas de tradições e costumes não quer dizer: perder os seus próprios. Ao contrário. Essa adaptação necessária para a sobrevivência num  mundo plural, fez com que os Rons adotassem crenças religiosas locais por afinidades íntimas, e outras impostas, como o caso dos grupos Rons na região da Espanha. Eles eram obrigados a vestir-se e adotar o cristianismo para que pudessem conviver num nível aceitável com os nativos locais. Muito parecido com o que os Portugueses impuseram aos índios e negros africanos no Brasil.

Religiosamente falando, embora todos os grupos conservem muitos rituais, cerimônias e tradições ancoradas em crenças culturais próprias com uma certa uniformidade, mas há uma variação dessas tradições dependendo do grupo/clã familiar de origem de cada agrupamento. Arisco-me dizer que os Ciganos são em sua maioria cristãos católicos, agnósticos e mais atualmente se pode observar protestantes/evangélicos. Como a grande concentração de Ciganos é no ocidente, em países europeus, o cristianismo acaba influenciando a religião e filosofia. Porém acredito que mesmo que haja essa influencia grande, costumes, crenças e tradições que envolvem rituais fúnebres, de nascimento, casamento, de passagem de idade, entre outras, é passado de geração e geração e ainda é fortemente observado entre os Ciganos. Mas falemos de costumes Ciganos em outra oportunidade.

Por tudo isso falado acima, querer "ditar" como os "Ciganos de verdade" tem que ser, agir e pensar, é deverás complexo. Por outro lado, muito de generalizações e arquétipos foram criados pelos "não ciganos", pela Igreja - a maior responsável por disseminar a fama de feiticeiros, bruxos, embusteiros e ladrões. Por serem diferentes e segregados dos demais, criou-se um vulto de mistério e boatos que com os anos passaram a ganhar força, forma e corpo, conferindo aos Ciganos as mais distorcidas, fantasiosas e injustas atribuições. Principalmente no que tange as Ciganas, que são vistas como místicas e bruxas, de mistérios espirituais. Mas todo esse "glamour" ou temor (dependendo de quem veja) que muitos ligados as religiões e cultos diversos, quando passamos a ver e conversar com Ciganas de sangue, vemos um outro panorama se mostrando. Sim, são mulheres "místicas" e diferenciadas, pois desde jovens são estimuladas a exercitar a sua sensibilidade espiritual através da vidência e predição da sorte e futuro. Tradição essa milenar que as Ciganas ainda ocupam nos dias de hoje. Basta observar nos centros comerciais. Obviamente que não se compara a décadas passadas, mas o costume ainda existe. E não como um "meio de vida", mas sim como um ato cultural, enraizado na formação desse povo. Porém, há muito de exageros e fantasias, principalmente no que envolve: espíritos de ciganas, seus arquétipos comumente observados e as Ciganas: grupo étnico.

É difícil querer entender um grupo de espíritos, pelo visão atual do seu povo encarnado? É. Mas não adianta querer entender as manifestações Ciganas e suas formas de atuação, sem este olhar. Da mesma forma que precisamos olhar para a cultura e formas de vida espiritual e cotidiana do indígena, quando se quer aprofundar um "trato" no seu culto dentro de religiões ameríndias, não são muito diferentes; os Ciganos. Todas essas entidades se apresentam sob um nome que traz um corpo antepassado. Se não procurarmos entender esse corpo e do porquê esse espírito traz justamente esse corpo como sua identidade, ficaremos embutindo nossos próprios pareceres, achismo, vontades, fantasias e idealizações.   Entender a diversidade do povo Rom, nos ajuda a entender melhor muitas das manifestações dos Espíritos Ciganos.

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